quinta-feira, 21 de outubro de 2010

devagar

os dias que se passam
devagar
e eu sem dormir

seu corpo que está distante do meu
seu abraço
aconchego perdido

me levanto
tonto
e me pergunto se chegarei ao fim de mais esse dia

as lágrimas que não param
e que pedem a ação convulsiva do corpo
os descontroles

que escondo

respiro devagar
e agora
acelero

medo de viver

as palavras que te escrevo em segredo e não sei se vou te mostrar

o dia que foi aquele
perdido nos anos passados
mergulhado na agonia funda da dor dos anos passados
mar de lembranças que busco prá me afogar

me perco dos meus próprios afagos
essa coisa frágil e gasta
pequena coisa na qual me agarro e que vejo se despedaçando enquanto me debato nesse mar meu de lembranças sanguinolentas essas lembranças coisas vívivas coisas vivas em mim que em mim me arrastam prá lá prá lá prá lá
prá lá onde vou onde estou que eu vou que não estou aqui

e
de novo
me lembro daquele dia
das dores coisas que sentia
da mente que me escapou
a dor que era forte demais
o sono que me escondeu da dor

mãos minhas mãos que se moviam sem mim
que fizeram o de fazer sem a mim me perguntar
de quem eram as mãos e o de fazer
de quem era o de fazer que minhas mãos sem mim se agitaram prá pegar coisas e tocar bocas as pernas andando a esmo pelo mundo incerto etéreo mundo dos vivos viventes

sono
estranho aquele sono que me invadiu naquele dia de dor distante no afogado do passado

acordei trêmulo
sem saber onde estava
olhar disperso
tonto
escondido da dor

os anos passam
os anos passam
e ela
ela
sempre ELA (exclamação, grito gemido, urro primal, grito de dor profunda, perplexidade)

os secretos que escondo de mim mesmo
minhas lembranças de náufrago

a respiração é acelerada
minha respiração é acelerada
e tenho medo pavor dessa coisa cortante

coisa afiada que gira num círculo torto à minha frente

as pessoas
o que dizer
o que pedem
o que mandam
o pavor que me metem

obrigações
fracassos
deterioração cultivada a cada passo
a solidão companheira

o sono que
por fim
vem

quando bebo
álcool queimando as veias
torrando os últimos e solitários
as células
miasma que em entorpece
e me escondo da dor

me deito
não durmo
os dias que se passam devagar

--outubro de 2010

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