terça-feira, 2 de novembro de 2010

a última coisa que quero ter

os anos se passam
em inclemente lentidão
traços e destroços da juventude perdida
dos sonhos lentamente triturados

muitas coisas
tantas coisas
as muitas que acumulei
objetos
peças
componentes
incontáveis dejetos e excrementos

e agora
agora
o que busco
agora

apenas um intervalo
um pequeno intervalo

intervalo para buscar mais uma coisa
minha última coisa
minha companheira para as derradeiras viagens

--novembro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

devagar

os dias que se passam
devagar
e eu sem dormir

seu corpo que está distante do meu
seu abraço
aconchego perdido

me levanto
tonto
e me pergunto se chegarei ao fim de mais esse dia

as lágrimas que não param
e que pedem a ação convulsiva do corpo
os descontroles

que escondo

respiro devagar
e agora
acelero

medo de viver

as palavras que te escrevo em segredo e não sei se vou te mostrar

o dia que foi aquele
perdido nos anos passados
mergulhado na agonia funda da dor dos anos passados
mar de lembranças que busco prá me afogar

me perco dos meus próprios afagos
essa coisa frágil e gasta
pequena coisa na qual me agarro e que vejo se despedaçando enquanto me debato nesse mar meu de lembranças sanguinolentas essas lembranças coisas vívivas coisas vivas em mim que em mim me arrastam prá lá prá lá prá lá
prá lá onde vou onde estou que eu vou que não estou aqui

e
de novo
me lembro daquele dia
das dores coisas que sentia
da mente que me escapou
a dor que era forte demais
o sono que me escondeu da dor

mãos minhas mãos que se moviam sem mim
que fizeram o de fazer sem a mim me perguntar
de quem eram as mãos e o de fazer
de quem era o de fazer que minhas mãos sem mim se agitaram prá pegar coisas e tocar bocas as pernas andando a esmo pelo mundo incerto etéreo mundo dos vivos viventes

sono
estranho aquele sono que me invadiu naquele dia de dor distante no afogado do passado

acordei trêmulo
sem saber onde estava
olhar disperso
tonto
escondido da dor

os anos passam
os anos passam
e ela
ela
sempre ELA (exclamação, grito gemido, urro primal, grito de dor profunda, perplexidade)

os secretos que escondo de mim mesmo
minhas lembranças de náufrago

a respiração é acelerada
minha respiração é acelerada
e tenho medo pavor dessa coisa cortante

coisa afiada que gira num círculo torto à minha frente

as pessoas
o que dizer
o que pedem
o que mandam
o pavor que me metem

obrigações
fracassos
deterioração cultivada a cada passo
a solidão companheira

o sono que
por fim
vem

quando bebo
álcool queimando as veias
torrando os últimos e solitários
as células
miasma que em entorpece
e me escondo da dor

me deito
não durmo
os dias que se passam devagar

--outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

inaudito

cortante
cortante
aquela coisa cortante que emana de mim quando te digo que te amo
coisa cousa causa

nos olhos
te olho nos olhos
tomado de uma perplexidade inaudita
uma alegria tormentosa
que
de alguma forma
me faz mais vivo

as palavras de amor que já te disse
as que temi dizer
e as que ainda te direi

descaradamente
despudoramente

palavras e corpos jogados um sobre o outro
os atritos suaves e os violentos
descontroladamente alternados

meu ser que se perde de mim
se perde um pouco de mim
e se encontra com o seu

me esqueço de quem sou
me esqueço de querer ser
e me entrego às pulsões vadias que levam até você

as coisas todas misturadas no coração
os pedaços cacos destroços de minhas vidas passadas
os ferimentos nunca cicatrizados que eu mostro prá você

e que você olha com um cuidado tão intenso e terno para esses pequenos monstros esses pequenos monstros que te mostro e que agora se mais parecem com anjos pequenas e belas criaturas aladas que me trouxeram até você

eu preciso chorar de novo eu sempre preciso chorar de novo e você me acalentando enquanto choro e meus monstros meus monstros meus pequenos anjos no meu colo que agora olho com carinho e afeição

porque eles me trouxeram até você

e a interrogação que eu faria agora prá perguntar porque me trouxeram até você mas não quero mais perguntar pelos pequenos monstros que te mostro meus pequenos anjos que me fazem sorrir chorar sorrindo distraído de tudo quando estou ao seu lado

--setembro de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Território

os beijos todos q eu te dei

o primeiro
o primeiro

o primeiro beijo
doce toque de lábios sedentos

dois nós
dois sós

encontro tão antecipado

nos demos as mãos
o abraço
e o mundo todo em silêncio

os dias em que te amei
meu corpo colado no seu
sua saliva em minha boca

seu corpo
meu território
e o mundo todo em silêncio
lá fora

cá dentro
calor e fogo
intermináveis momentos de amor
despidos de roupas e de pudores
nossas vidas
por momentos
entrelaçadas

por fim
a hora da despedida
e o mundo todo em longo silêncio
cá dentro

--Fevereiro de 2010

demolição

profusão
intensa e profusa

confusão

crianças
mulheres
e os filhos delas cortando os cabelos

homens sentados
homens de pé

e o barulho de tesouras

e eu
e eu que já fui tudo
e já fui todos
e eu que já fui nada

demolição

escombros dos meus amores
escombros das minhas dores
escombros dos meus valores 
 
--Fevereiro de 2010

A memória das mãos

a memória boa que eu sempre tive
e te carregou em mim por anos sem conta

as formas belas de tuas faces
ossos e carnes marcando teu belo rosto

tua voz que não se pode esquecer
jeitos e trejeitos
delicadamente femininos

as coisas que eu não sabia de ti
teu lindo cabelo em redescoberta exuberância

mãos
mãos
mãos

as surpresas que minhas mãos reservavam
a mim mesmo

rever
rever o que eu não sabia saber

percorrer teu corpo
lentamente
maciamente

o toque delicado de teus recantos
teus doces encantos

redescobrir tuas texturas
invadir teu texto
redesenhar contextos

cheiro do teu corpo
em minhas mãos

cores de tua alma de mulher
em meu coração

--Março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Flores

Há tempo escrevo poemas, somente poemas; são tão fortes as muitas imagens que se passa com um poema.

Mas desta vez, há algo de diferente aqui. Hoje a saudade de te ver e de falar com você é imensa. Me lembro de seu sorriso tão largo, de sua alegria constante, da conversa que flui fácil e percorre os tantos temas de que são feitas nossas vidas. Sua voz inesquecívelm ressoa em minha memória.

E, então, queria te contar da plantinha que você me deu, das flores que você me deu. Como se estivesse sentado a seu lado e estivéssemos conversando novamente.

As flores se foram, mas a planta está linda! Cuido dela diariamente, verifico a umidade na terra do pequeno vaso. Me dei ao trabalho de colocar areia no pratinho que há debaixo do vaso, que é para essa pequena maravilha não virar criatório de anophelinos.

Escolhi um lugar para a plantinha, um lugar onde ela recebe luz, mas um lugar que fica ao abrigo do sol direto. É notável o lento movimento das folhas em direção à luz. Assim sendo, viro a plantinha um pouco, a cada dia. Ela cresce por igual, se espalhando pelo pequeno vaso.

As flores se foram, há apenas folhas e brotos agora. Me pergunto, em minha imensa ignorância, se as flores, algum, virão novamente meu pequeno vaso.

Minha ignorância é imensa porque jamais lidei com plantas. E, no entanto... no entanto estou eu aqui, cuidando dessa pequena planta que você me deu.

Creio que, de alguma forma, fui aprendendo algo com os anos. Vivendo, observando pessoas, observando a mim mesmo. Observando as pessoas nascerem, crescerem e morrerem, cuidando de plantas, de outras pessoas, de si mesmas.

E isso tudo que aprendi, talvez seja isso que tenha ensinado a aprender a cuidar da minha vida, dos meus filhos, do meu trabalho, dos meus estudos, dos meu amores, e também da planta que você me deu.

Talvez, então, assim como ela, tudo esteja crescendo também. As flores murcham e morrem, algumas folhas também. Mas, cuidada, a planta cresce e, cedou ou tarde, florescerá novamente.

-- Março de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Facção

retrato
fotografia
instatâneo

momento
pequeno
fixado no tempo

pedaço
fatia
lasca

minúscula fração das incontáveis possibilidades
inebriantes possibilidades

asfixiante impossibilidade

ah
tão maior q eu
tão imensamente maior q eu

e meus olhos
minha boca
ouvidos
pele

a vibrar
a vibrar com um mundo q não possuo
não posso apreender

mas que me invade
com força
gana
potência
ardor

--Fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Amara máscara

E, então, usamos
MÁSCARAS!

Eu, que pensava buscar a transparência, encontro, em mim mesmo, a dissimulação estudada.

As faces que mostro
quando mostro
a quem mostro

As faces que oculto de mim mesmo

Quem sou sem minhas máscaras?
Quem sou se me escancaro?

Quando me escancaro
eu sei quem sou

Homem apaixonado
Louco descarado
Em busca do teu amor

Alter

Reconhecer-se
No olhar que mergulha no outro
Visita detalhes
Adivinha detalhes
Ver no outro o outro que é você
Reconhecer-se semelhante ao outro
A si mesmo
E também diferente de todos

Aceitar-se multiplicidade
Fonte inesgotável de pulsões
Desejos
Impulsos
Certezas
Dor
Fragilidades
Contradições

Aceitar-se cindido
Aceitar a outra (a outra, a outra, a outra)
Cindida
Incerta
Faminta
Perplexa

(pausa para suspiros)
(agora seria uma boa hora para levantar da cadeira e me trancar no banheiro)

Sentar e chorar
quando dá de cara
com o... (eu tenho medo dessa palavra)

O Inconsciente
O que sei que existe e q não vejo
Sinto
Quanto explode
Aparece
Quando me mostro
Vejo
Quanto te vejo
Permutado, em sua essência, por sua essência

Ela, a Razão, havia me dito para parar
Fechar portas
Ir embora
Em boa hora
Ela me explicou, claramente, todos os perigos

Eu não quis
Não quis assim
Eu sou egoísta
Narcisista
...
Eu só penso em mim
E em vc
em vc
em vc
em vc

Eu olho prá vc (sua imagem)
e te devoro
Te abro (não peço permissão)
Meto a boca (quero teu gosto)
Para (não paro)
Eu não presto
Eu tenho medo (daquela palavra)

--Junho de 2009

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

who am I?
just an old man
an old guy

aging fast each new day

my heart is flooded with the pain of life
pain of the many mistakes of my way

my path
looking out for my path
looking out for my past

words
words
pause

silences and sounds are all I have
vibrations of the air comming deep from my lungs

can't remember who I was
who I used to be
can barely accept who I am

still
still
still I follow
heading to the unknow

estilo do amor

olhares que se cruzam?
alinhamento de astros
planetas próximos por uma fração ínfima de tempo

o tempo do seu tempo de me ver
o tempo do seu tempo de ser minha

mãos esticadas
braços esticados

corpos que se agitam freneticamente

sinto o cheiro exalado por teu corpo

aromas

sinto o gosto dos respingos do teu suor em minha boca
oca
oca
oca
e eu não posso evitar a rima fácil

tão perto
tão perto
tão perto

e eu não tenho contato táctil

cabelos em desalinho
planetas em desalinho
astros q não vejo mais

te digo adeus

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tarde

bate e rebate
o coração da minha tarde

o ar quente
quente
me aquece
o coração

pulso
suspiro
respiro

a alma arde
perdida em sonhos

e esse vento?
e esse vento?

que agita os teus cabelos
e traz a mim o teu cheiro de mulher

Expressão poética

uma gota de poesia
para falar do seu dia

para quando as palavras
as que falam mais alto
são aquelas que pouco dizem

para quando os silêncios
as pausas e intervalos do ser
falam melhor da sua razão de viver