terça-feira, 15 de março de 2011

as gotas

uma gota
um pingo

memórias
minhas memórias

as coisas que vêem e vão

um pouco de mim caído em você
um pouco de você em mim

lembranças demais
a alma encharcada de pingos e lembranças

e das dores do que se foi

saudades sem conta
pessoas sem conta
ganhos e perdas sem conta

e um cansaço
(imenso)
cansaço de contar

--março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

olhos

meus olhos em teus olhos
silêncio profundo

onde estão nossas palavras
onde se escondem
agora (interrogação)

onde estão nossos beijos
sua boca doce
faminta

minha boca
quieta e seca

minhas mãos e braços
fechados sobre mim mesmo

as perguntas que me faço

as perguntas que te faço
e que você não responde

ninguém pode responder

porque viver
prá que viver
porque morrer
prá onde caminhar
o que vem depois do fim

"de que vale tudo isso
se você não está aqui"

seu olhar que não mais me penetra
as verdades profundas que desconheço

existe aquilo
a que chamamos
o que chamamos
Amor (interrogação)

suave ilusão
auto impingida

--março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

álcool

os nomes que eu tenho
a verdade

inexistente

a mulher que amei e que não existe mais

os meus segredos
as verdades que não conto prá ninguém
as muitas mentiras

as mentiras
incontáveis
que uso prá me esconder de vc
minha amada que não consegue mais me ver

o amor que não temos mais

você
meu novo fantasma
mulher que amei e que se foi antes de se fazer real

--março de 2011

terça-feira, 2 de novembro de 2010

a última coisa que quero ter

os anos se passam
em inclemente lentidão
traços e destroços da juventude perdida
dos sonhos lentamente triturados

muitas coisas
tantas coisas
as muitas que acumulei
objetos
peças
componentes
incontáveis dejetos e excrementos

e agora
agora
o que busco
agora

apenas um intervalo
um pequeno intervalo

intervalo para buscar mais uma coisa
minha última coisa
minha companheira para as derradeiras viagens

--novembro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

devagar

os dias que se passam
devagar
e eu sem dormir

seu corpo que está distante do meu
seu abraço
aconchego perdido

me levanto
tonto
e me pergunto se chegarei ao fim de mais esse dia

as lágrimas que não param
e que pedem a ação convulsiva do corpo
os descontroles

que escondo

respiro devagar
e agora
acelero

medo de viver

as palavras que te escrevo em segredo e não sei se vou te mostrar

o dia que foi aquele
perdido nos anos passados
mergulhado na agonia funda da dor dos anos passados
mar de lembranças que busco prá me afogar

me perco dos meus próprios afagos
essa coisa frágil e gasta
pequena coisa na qual me agarro e que vejo se despedaçando enquanto me debato nesse mar meu de lembranças sanguinolentas essas lembranças coisas vívivas coisas vivas em mim que em mim me arrastam prá lá prá lá prá lá
prá lá onde vou onde estou que eu vou que não estou aqui

e
de novo
me lembro daquele dia
das dores coisas que sentia
da mente que me escapou
a dor que era forte demais
o sono que me escondeu da dor

mãos minhas mãos que se moviam sem mim
que fizeram o de fazer sem a mim me perguntar
de quem eram as mãos e o de fazer
de quem era o de fazer que minhas mãos sem mim se agitaram prá pegar coisas e tocar bocas as pernas andando a esmo pelo mundo incerto etéreo mundo dos vivos viventes

sono
estranho aquele sono que me invadiu naquele dia de dor distante no afogado do passado

acordei trêmulo
sem saber onde estava
olhar disperso
tonto
escondido da dor

os anos passam
os anos passam
e ela
ela
sempre ELA (exclamação, grito gemido, urro primal, grito de dor profunda, perplexidade)

os secretos que escondo de mim mesmo
minhas lembranças de náufrago

a respiração é acelerada
minha respiração é acelerada
e tenho medo pavor dessa coisa cortante

coisa afiada que gira num círculo torto à minha frente

as pessoas
o que dizer
o que pedem
o que mandam
o pavor que me metem

obrigações
fracassos
deterioração cultivada a cada passo
a solidão companheira

o sono que
por fim
vem

quando bebo
álcool queimando as veias
torrando os últimos e solitários
as células
miasma que em entorpece
e me escondo da dor

me deito
não durmo
os dias que se passam devagar

--outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

inaudito

cortante
cortante
aquela coisa cortante que emana de mim quando te digo que te amo
coisa cousa causa

nos olhos
te olho nos olhos
tomado de uma perplexidade inaudita
uma alegria tormentosa
que
de alguma forma
me faz mais vivo

as palavras de amor que já te disse
as que temi dizer
e as que ainda te direi

descaradamente
despudoramente

palavras e corpos jogados um sobre o outro
os atritos suaves e os violentos
descontroladamente alternados

meu ser que se perde de mim
se perde um pouco de mim
e se encontra com o seu

me esqueço de quem sou
me esqueço de querer ser
e me entrego às pulsões vadias que levam até você

as coisas todas misturadas no coração
os pedaços cacos destroços de minhas vidas passadas
os ferimentos nunca cicatrizados que eu mostro prá você

e que você olha com um cuidado tão intenso e terno para esses pequenos monstros esses pequenos monstros que te mostro e que agora se mais parecem com anjos pequenas e belas criaturas aladas que me trouxeram até você

eu preciso chorar de novo eu sempre preciso chorar de novo e você me acalentando enquanto choro e meus monstros meus monstros meus pequenos anjos no meu colo que agora olho com carinho e afeição

porque eles me trouxeram até você

e a interrogação que eu faria agora prá perguntar porque me trouxeram até você mas não quero mais perguntar pelos pequenos monstros que te mostro meus pequenos anjos que me fazem sorrir chorar sorrindo distraído de tudo quando estou ao seu lado

--setembro de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Território

os beijos todos q eu te dei

o primeiro
o primeiro

o primeiro beijo
doce toque de lábios sedentos

dois nós
dois sós

encontro tão antecipado

nos demos as mãos
o abraço
e o mundo todo em silêncio

os dias em que te amei
meu corpo colado no seu
sua saliva em minha boca

seu corpo
meu território
e o mundo todo em silêncio
lá fora

cá dentro
calor e fogo
intermináveis momentos de amor
despidos de roupas e de pudores
nossas vidas
por momentos
entrelaçadas

por fim
a hora da despedida
e o mundo todo em longo silêncio
cá dentro

--Fevereiro de 2010